sexta-feira, dezembro 31, 2010

O bom ano seria.



''Pode até ser falta de maturidade minha pensar que as coisas seriam diferentes do que são agora, vinte anos depois de terem sido muito boas. Quando se é um bebê de colo a felicidade é incontestável pelo simples fato de que, com essa idade não se contesta nada. Na maioria das vezes os estímulos externos do mundo são gentis com a gente e a gente – óbvio – não reclama. É, saudade de ser estimulada positivamente.

O ano acabou, de novo. De novo foram embora de mim mil expectativas não cumpridas dando lugar às outras mil que eu vou criar bem naquele momento mágico e batido do pular ondinhas(...). De novo todas as pessoas que eu pensei que ficariam foram embora; a que eu queria que chegasse, não vem mais. Adeus ano velho.

(...)
E me pergunto – no mantra típico das reavaliações de final de ano -: pra onde foram todas as certezas de doze meses atrás?
(...)
Passado o primeiro momento de tortura mental por lembranças sentimentais remotas, chega a hora de pensar na carreira, nos rumos que as coisas levaram. (...) Mas felizmente eu pratico mal de Alzheimer voluntário pra assuntos que me interessam e também, digamos, mal de Narciso quando sinto ser conveniente. Esquecimento e auto-estima elevados me fizeram passar essa pra trás fácil também. Sinto mais falta das pessoas do que do trabalho.

Alguns amigos, algumas escolhas, algumas horas felizes foram embora involuntariamente mas, se paro para analisar o que veio depois da dor, tenho uma vontade quase que incontrolável de ver cada uma dessas pessoas de novo só pra poder olhar pra elas e dizer: “Obrigada por ter ido embora.”.

2010 não foi, nem de longe, um ano muito fácil pra mim. Perdi tanta coisa ao mesmo tempo – e em um espaço de tempo tão curto -, que a rainha das certezas acabou fazendo terapia, só pra ter mais uma certeza: eu posso até ser louca, mas só estando completamente fora da mim deixaria uma completa estranha dizer o que eu tenho que fazer da minha vida. Valeu pela tentativa, não valeu pelo dinheiro perdido. Teria sido mais feliz comprando coisas.

Mas o fato – e grande intuito de tudo isso – é que, apesar de não ter tido o brilho de 2006 – aos meus quinze anos, no meu segundo colegial cheio de baladas, sorrisos, amigos e sessões da tarde –, nem a euforia de 2008 – aos meus 17, último ano de colégio, milhões de coisas, pessoas, sensações, descobertas novas -, 2010 foi o ano que decidiu quem eu vou ser para o resto da minha vida.

Eu descobri que pouco importa com quem eu namore, ou onde eu trabalhe, ou ainda, em que eu acredite. A verdade é que babacas sempre existirão, sejam eles afetivos ou coorporativos.

As certezas eu descobri, neste ano, que não existem. Aliás, uma existe sim: eu não vou nunca, na vida, deixar minha leveza ser levada nas incertezas do caminho pelo simples fato de que, triste ou feliz, eu vou ter que continuar andando.

Meu voto de ano novo, então, é o da leveza. Ela vai me ajudar a carregar 2011 com menos esforço e vai, com certeza, me levar bem alto na hora que eu estiver pulando minhas sete ondinhas, acreditando em tudo de novo.''

Texto adaptado de Rani Ghazzaoui.














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